segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Zé Balila: o fotógrafo de gerações

"Fotografar, é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração."  (Henri Cartier-Bresson)

Foi assim que, em quase meio século trabalhando com a arte fotográfica, José Sérgio Gianelli, o Zé Balila, registrou em suas lentes gerações de famílias botelhenses.
Na infância, acometido por uma deficiência visual, com olhos estrábicos e usando óculos de “fundo de garrafa”, Zé Balila nunca imaginou que um dia viria de seus olhos, o motivo de orgulho e de reconhecimento pessoal e profissional.
Em sua juventude, Zé Balila procurou nos seminários católicos, nas cidades de Taubaté, Patos de Minas e Belo Horizonte, um refugio para aprender a ler e escrever. Com o tempo, com muita dificuldade para ler e avançar nos estudos, Zé Balila é reconhecido como irmão leigo, e assim, volta para Botelhos, onde inicia sua vida profissional.
Começou trabalhando na Agência de Correio e Telégrafos de Botelhos, junto com sua tia Rita. Porém, nas horas vagas, vendia revistas usadas e um ponto comercial onde ficava o antigo laboratório do Foto Xará, de seu tio Sérgio de Paula Dias. Incentivado por um caixeiro viajante, Zé Balila incrementou seu comercio, vendendo produtos de papelaria e artigos de presentes, surgindo a Papelaria Gianelli.
Em 1957, já casado com Edméia Duarte Gianelli, Zé Balila vê o sucesso de sua papelaria, considerada uma das mais completas da cidade. Com tino comercial aguçado, vende a papelaria e monta uma leiteria Bar, passando a comercializar produtos alimentícios.
Mas este novo comércio não vingou, obrigando-o a prestar um concurso para os Correios, onde, mais tarde, se tornaria Chefe de Seção.
Neste meio tempo, compra o Cartório de Registro do Sr. Francisco Aguirre. Porém, nomeado como guarda fio nos Correios – naquela época, a notícia costumava chegar através telegramas que na ocasião eram decifrados pelo código Morse – Zé Balila é nomeado para a cidade para Cabo Verde, onde permanece por pouco tempo já com seus filhos José Reinaldo, Luiz Carlos (Liti) e Simone, tendo que desistir do cartório em Botelhos.
Descontente, pedi transferência do cargo para a cidade de Poços de Caldas. Porém, por acaso do destino, é transferido novamente para Botelhos, agora como Chefe de seção dos Correios e Telégrafos da cidade.
Neste momento, enxerga na profissão do Tio Xará, a oportunidade que iria transformar e perpetuar a sua vida, Zé Balila compra todos os equipamentos do Foto Xará e começa então, uma nova fase de sua vida, a de fotógrafo.
Entre a função de chefe de seção dos Correios, Zé Balila vai profissionalizando o serviço de fotografia na cidade, recebendo encomendas de serviço em Botelhos e região, monta um laboratório fotográfico, expandindo seus serviços e aumentando a clientela.
Detalhista e perfeccionista vai conquistando mais fregueses, fazendo cobertura fotográficas de casamentos, batizados, festas, ensaios publicitários, além de atender diariamente aqueles que precisavam apenas de uma foto 3x4 para os documentos.
Na década de 90 participa de concursos de fotografias, recebendo prêmios por suas fotos e se destacando em revistas especializadas de fotografia. Inclusive, como relata a família, uma de suas fotos premiadas é usada, sem autorização, como propaganda da Nikkon, marca de uma das mais conceituadas empresas de máquinas fotográficas do mundo.
Aposentado dos Correios passa a se dedicar exclusivamente à fotografia. Com grande visão de mercado, vai acompanhando a evolução da arte fotográfica, adquirindo equipamentos modernos, fazendo trabalhos exclusivos, aperfeiçoando sua técnica, porém, sem nunca ter feito um curso profissionalizante.
Seus filhos, Liti e Simone, também passam a exercer a função de fotógrafos e continuam dando seqüência aos trabalhos que tornou seu pai respeitado e reconhecido em toda a região.
No último dia 30, aos 77 anos, Zé Balila faleceu, mais deixou registrado na memória de todos e em suas fotos, momentos felizes de várias gerações de famílias botelhenses.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Botelhos perde mais um imóvel da década de 20



Pedro Cunha

No fim do mês de setembro, a população de Botelhos se surpreendeu com a demolição de mais um de seus antigos imóveis, construídos na década de 20 e integrante do acervo arquitetônico da cidade e inventariado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural do Município.
O imóvel, localizado na Avenida Major Antonio Alberto Fernandes, hoje, popularmente conhecido como o prédio da Taberna 54, foi construído pela família do Sr. Pedro di Perna.
Segundo o livro “Botelhos – Patrimônio Histórico de Cultural”, produzido pelo Conselho Municipal e Prefeitura, Pedro di Perna nasceu na Itália, em 1899, e chegou a Botelhos aos nove meses de idade. Estudou comércio e contabilidade e, aos 23 anos, começou a comercializar café, adquirindo e exportando boa parte da produção da região do sul de Minas. Em 02 de agosto de 1.921, o Sr. Pedro di Perna, seu cunhado Vicente Tepedino e mais três sócios, fundaram a primeira casa bancária de Botelhos, localizada no imóvel demolido nos últimos dias.
Em Poços de Caldas, na década, de 30, a família Moreira Salles também vinha atuando no setor bancário, transformando a seção bancária da Casa Moreira Salles, na Casa Bancária Moreira Salles, que iria se juntar mais tarde, na década de 40, com a Casa Bancária de Botelhos e com o Banco Machadense, transformando-se no Banco Moreira Salles, marcando o início da trajetória do Unibanco, um dos maiores privados do País. Conforme relato histórico do Instituto Moreira Salles: “Em 1940, os proprietários da Casa Bancária Moreira Salles e a Casa Bancaria de Botelhos firmaram-se a convicção de que a só cresceriam se juntassem esforços com outros estabelecimentos similares da região. A idéia de juntar a Casa Bancária Moreira Salles, a Casa Bancária de Botelhos, - no qual Pedro di Perna, que teria um papel executivo chave no Banco Moreira Salles- e o Banco Machadense,de propriedade de grandes fazendeiros com interesse secundário no negócio bancário, num estabelecimento único parecia reunir toda a conveniência. Assim, No dia 15 de julho de 1940, o Banco Moreira Salles recebeu sua carta patente. Sua sede seria em Poços de Caldas”.
Após a formação do Banco Moreira Salles, o prédio da Avenida Major Antonio Alberto Fernandes foi sede da Delegacia de Polícia, juntamente com a Radio São José, de propriedade dos srs. Altamiro Valim e Sérgio de Paula Dias, o Xará, cuja locução também era feita pelo Sr. Noel Sandy, que alegrava a comunidade botelhense com o programa “Rancho da Amizade”, que tinha como prefixo musical a música “Pic nic na fazenda”, do conjunto gaúcho “Os Montanari”, que ia ao ar das 13h às 15h.
“A Radio São José, que teve que ser fechada, pois não era legalizada, mais naquele prédio, iniciaram na carreira os amigos Benedito Fonseca e Flávio Anunciação” lembra Noel Sandy.
Na década de 50, o imóvel foi comprado, com recursos próprios, pelo prefeito municipal Sr. Ernesto Romão de Siqueira, para abrigar a Prefeitura Municipal, que não possuía local para funcionar.
Neste período, o prédio foi utilizado como sede da Prefeitura, até a construção da sua sede própria, inaugurada em 1976, localizada na Praça São Benedito, que hoje passa por reforma depois que uma forte chuva de granizo danificou o local.
Nos anos posteriores, tendo como proprietária a família do Sr. João Batista de Abreu, a parte térrea do prédio da Avenida Major Alberto foi ocupado pelo escritório das Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), onde permaneceu até a década de 1990.
Em sua parte superior, funcionou o Bar Casarão, ponto de encontro da juventude e dos apreciadores da boa música ao vivo. Após, o prédio foi alugado como ponto comercial da Haus Vídeo Locadora, de propriedade de Maria Eduarda Tavares Junqueira, a Dadati. “Inauguramos a locadora no dia 15 de setembro de 1990, onde permanecemos até 1998. Foi o primeiro ponto comercial a utilizar o “néon”, febre na época, como letreiro de propaganda”, lembra Dadati.
Em 1998, a parte superior do prédio foi sede do jornal Folha Agrosul, dirigido ao setor agropecuário, de propriedade de Daniela Abreu e Vânia Marques. A Folha Agrosul funcionou no prédio até 2004, e depois foi transferida para a Praça Gabriel Botelho, nº 130, no centro da cidade.
No piso inferior, em 1998, o imóvel foi transformado em uma Taberna, de nº 54, local de encontro da juventude, com decorações estilizadas, típicas de um pub italiano. A taberna 54, de propriedade da Sra. Mariângela Ayres Abreu, oferecia aos clientes diversas opções de bebidas, porções, além de musica ao vivo e promovia o encontro de toda Botelhos nos principais eventos como o encontro de jipeiros, cavalhada, as Copas do Mundo de 98, 2002 e 2006, o carnaval, local que recebia grande concentração de pessoas que prestigiavam as festas em Botelhos. “Tenho boas recordações da Taberna, pois além de muita amizade e respeito, o local também trazia momentos de nostalgias e recordações, pois quando o prédio foi sede da Prefeitura, lembro de meu avô, João Batista de Abreu, então Prefeito da cidade, que tinha um escritório onde era a cozinha da Taberna 54 e, em momentos de inspiração, ou pintava meus quadros sempre acompanhada de lembranças de meu avô”, conta Mariângela.
A taberna 54 funcionou no prédio da Avenida Major Antonio Alberto Fernandes até 2009, o local chegou a receber em seus eventos mais de mil pessoas e um só dia. “Foi palco de muitas gerações, de famílias, de casais de namorados que se conheceram, namoraram e casaram” recorda Mariângela.

Descrição
No relatório apresentado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural do Município, em 2005, e determinante para a incorporação como parte integrante dos imóveis inventariados de Botelhos, ou seja, imóvel que faz parte da história da cidade, o prédio trazia algumas peculiaridades em sua parte arquitetônica, como descrita no relatório: “O acesso ao primeiro pavimento se dá direito à rua e o no segundo pavimento por uma escada em “U” que chega ao alpendre... O telhado possui cumeeira perpendicular à rua, várias águas, apresentando estrutura em madeira, coberto com telhas francesas....Os elementos decorativos encontrados na fachada frontal foram frontão decorado com brasão, frisos, relevos geométricos, florais, “colunas” nas laterais das janelas, sacada guarda corpo em ferro e portas de acesso ao primeiro pavimento almofadadas...”

O Conselho
De acordo com Luiz Carlos de Souza, o Chiquinho, presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural do Município, o pedido de demolição do prédio foi protolocado na Prefeitura, pelo atual proprietário do imóvel no final de agosto de 2010. Segundo ele, por se tratar de prédio privado, e tendo o conselho uma política de preservação apenas dos atuais prédios públicos, e devido à falta de recursos para atuar no setor privado, o Conselho, juntamente com a Prefeitura, deliberaram positivamente pela sua demolição. Porém, segundo o presidente, foi solicitada uma reunião com o proprietário, no sentido de resguardar a memória do patrimônio através de fotos, relatórios ou vídeo, que, segundo o proprietário, a citada reunião e o pedido não foram oficializados. Sendo assim, em posse de toda documentação legal e autorização confirmada, o proprietário do imóvel iniciou a demolição do prédio no final do mês de setembro.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os quebrantos, relances e abismos ao relento do poeta Wilson Nanini


Desde que lançou seu blog na rede mundial de computadores, em 2007, o poeta e policial militar, Wilson Torres Nanini, vem chamando a atenção de diversas pessoas, entre elas, poetas conceituados, de renome e que exploram este moderno mundo das letras.
Entitulando-se um poeta em fase de berçário, Wilson Nanini busca nos versos de “Quebranto, relances e abismos ao relento”, seu primeiro livro inédito de poemas, uma poética que oscila entre a delicadeza e a crueza, segundo analise da poetiza pernambucana Micheliny Verunschk, finalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira.
Wilson Nanini, nascido em Poços de Caldas, mas criado desde o berço em Botelhos, em 2002, chegou a cursar Letras  na Faculdade de São João da Boa Vista, mas, após fazer um curso para soldado da Policial Militar, em Lavras, teve que abandonar a faculdade, só voltando para Botelhos em 2007.

Origem
E foi em ambiente familiar, junto de sua mãe e suas tias, todas professoras, que Wilson Nanini teve seus primeiros contados com a literatura. Livros de fábulas e de histórias cotidianas moldaram sua veia poética.
No Ginásio, incentivado pelas professoras, Divina Moreira, Silvana Siqueira e Márcia Frazão, Wilson Nanini começa a colocar no papel seus primeiros versos. “Comecei fazendo letras de músicas para uma banda, formada por amigos, inspiradas principalmente na poesia de Renato Russo, da Legião Urbana. Assim, fui aperfeiçoando e buscando nas referências do Renato, como por exemplo, os poetas Arthur Rimbaud e Carlos Drumonnd de Andrade”.

Concursos 
Em 2000, participou do Concurso de Poesia Falada da cidade de São Paulo, promovido pela Prefeitura e pelo Instituto Mario de Andrade. Ficou em segundo lugar, com a poesia O corpo cervo corpo.
Em 2001, na cidade de Machado participou do Primeiro Concurso Plínio Motta de Contos e Poesias, promovido pela Academia Machadense de Letras, no qual foi premiado com a edição em livro com o conto Farfalhas de coisas ambíguas.
No Rio de Janeiro também participou de um concurso de poemas promovido pelas Editora Líteres, cujo 20 melhores poemas, incluindo o seu, foi publicado em livro.

O livro
Segundo Wilson Nanini, todos estes anos de leitura e produção resultou em uma coleção de poemas que já tem um destino certo: o livro “Quebrantos, relances e abismos ao relento”, que mesmo ainda sem data e edição para ser apresentado ao público, traz toda sua verve literária, trazendo a poesia como forma lúdica e de descarrego. Quebrantos estão ligados ao sagrado e ao profano, das rezas, das benzedeiras, dos mal olhados, das curas do corpo e da alma. Relances são as cenas cotidianas, da sua vida como filho, marido, o poeta com o seu olhar mais singular. Abismos aos relentos trazem toda sua vivência como soldado militar, que faz das letras e formas um ato de auto purificação.
Entrevistado pelo escritor e poeta Marcelo Novaes, em seu blog, Wilson se define como uma pessoa, até certo ponto, melancólica, nostálgica. Devedor da ancestralidade, da própria e da alheia. Detendo um gosto ao saudosismo, mas apenas pela alegria já vivida. “Como policial militar, lido com a morte alheia e com a possibilidade da própria morte, rotineiramente. Centenas de vezes estive à frente de pessoas com arame farpado e sangue nos olhos. Inclusive um considerável número de meus poemas foi esboçado de manhã, após noites de intensa labuta no meu ofício profissional. O repúdio ao distúrbio está disseminado em quase todos os meus poemas. Mas nunca fiz algo específico, como faria um Edgar Alan Poe, um Baudelaire ou um Augusto dos Anjos”.

Para os interessados a conhecer mais do poeta Wilson Nanini acesse:
www.wilsonnanini.blogspot.com  e www.tertuliapaodequeijo.blogspot.com 


Segue abaixo um poema feito para Botelhos, nestes 99 anos, comemorados no dia 30 de agosto.


BOTELHOS DE SETE VIDAS

Dita do asilo
Invés de alma, ela tinha ventania:
às vezes, uma ciranda alegre;
às vezes um circo demoníaco.

Evelise Leite
De sua benevolência, trago as vacinas certas
para traduzir a bíblia para formigas
e ser cão-guia para cegos.

Ofélia
Seu órgão dava perfume a um coral de beatas
e eu mastigava hóstias só para ver
se sairia sangue das chagas.

Onofre Soldado
De meu avô já morto, restam no meu rosto
alinhavadas pausas (cicatrizes esculpidas
pelas facas da sina de ser polícia).

Porfirinho
Dizem: “ele bebe o veneno das cascavéis que amansa”
– mas me oferta um gole de café-com-(de)leite
destilado das lendas da minha infância.

Sá Patrumília
Com murmúrio de rezas, ela mastigava meus anjos bélicos
e eu ficava desquebrantado
(com a alma cheirando a hortelã na água).

Zé Balilla
Fotografia é um alento precário:
lembrança é uma infância não de todo morta
empacotada em porta-retratos.

Histórias do Sul de Minas

O enigmático Porfirinho

Há 82 anos, completados no último dia 7 de julho, nascido na cidade de Bandeira do Sul, Porfírio Soares Filho, o Porfirinho, é conhecido de todos em Botelhos e por muitos nas cidades da nossa região. Tropeiro, amansador de cavalo e bois bravos, ferrador, benzedor e encantador de serpentes e marimbondos, Porfirinho é um enigma a ser desvendado. Muitas são as suas histórias, comprovadas por amigos e outras por ele contadas, mas, com seu jeito brincalhão e cativante, deixa o expectador com dúvidas, sem saber ao certo se são verdadeiras ou apenas parte de sua conversa instigante e cheia de realismo fantástico.
Pai de três filhos, cinco enteadas e quatro netos, Porfirinho passou toda sua vida dividido entre a família e fazendo o que mais gostava, a lida com animais. Trabalhou em várias fazendas, onde as maiorias das histórias contadas aparecem como pano de fundo.

“Responsa”
Diz que ainda moço, quando morava em Bandeira do Sul, ao colher uma roça de milho, não tinha como transporta-la do campo para a tuia. Assim, meio que sem saber como, apareceu em sua propriedade uma mula, que ali ficou rondando. Ao avistar o animal pensou, essa mula pode me ajudar a recolher o milho. E assim o fez. Após recolher grande parte da roça, já anoitecendo, Porfirinho foi até uma venda que existia nas redondezas. Lá, encontrou um sujeito dizendo que havia perdido uma mula, com as mesmas características daquela que havia aparecido em sua casa. Vendo o homem desesperado, disse que iria ajudá-lo a encontrar o animal, assim, ele ficou “responsa”, termo caipira usado para os adivinhadores. Em sua artimanha, Porfirinho voltou pra casa, acabou de recolher o milho e na noite seguinte encontrou o dono da mula e disse que o animal seria achado em um sítio dali próximo. Não deu outra, Porfirinho passou a ser considerado como “responsa”, e sua fama se espalhou pela redondeza.

Amigos
Mas para os amigos, Porfirinho tem sim uma coisa inexplicável, como conta o aposentado João Jacinto Pinto, o João Camelo, como ele mesmo se trata, aos 82 anos, de idade. Certo dia, na véspera do Natal, encontrou o amigo Porfirinho em um bar no centro de Botelhos. Após um pouco de conversa, notou que Porfirinho olhava para o nada, erguia o dedo e dizia: “Ó, ta vindo”, “Ó, ta chegando”. E assim, poucos minutos depois foi de encontrou com um sujeito vestido de cavaleiro, com botas, chapéu, trocou aperto de mão, conversaram por alguns minutos e se despediram. Porfirinho voltou para o bar e João Camelo perguntou quem era o rapaz que ele havia conversado. Tal o espanto quando ele respondeu: “Não sei, nunca vi. Só sei que ele me mandou um recado no ar dizendo que estava chegado e eu fui cumprimentá-lo”. Para João Camelo a troca de informação foi telepática.
Já o amigo Sebastião Leal Sobrinho, o “Sebastião Belchor”, 95 anos, conta que conheceu Porfirinho em uma situação quase que impossível: após Porfirinho cair do cavalo em que montava. A façanha foi no Bairro Santa Cruz, há mais de 50 anos. Diz que era um dia de domingo, na hora do almoço, quando escutou a algazarra e for ver o acontecido. “Lá estava ele caindo no chão, com o cavalo do lado, parecia embriagado. Perguntei, esse que é o famoso Porfirinho, amansador de cavalos? E era. Este foi o primeiro dia do inicio de uma grande amizade, o dia em que o feitiço virou contra o feiticeiro”, lembra.
Outra habilidade também contada pelos amigos é de sua facilidade com o manejo de coisas que exigem controle manual. Segundo ele, na falta de um funil para transpor o leite de um balde para garrafas, Porfirinho pegava o balde com a mão direita e com a esquerda segurava a garrafa e, ao poucos, e com muita concentração, ia virando o leite e despejando dentro das garrafas de vidro, sem cair uma gota pra fora. “Era uma coisa quase que impossível de si fazer. Era impressionante seu alto controle, só quem viu pra acreditar”, afirmam os amigos.
São muitas as histórias contadas pelos amigos que fizeram de Porfirinho uma pessoa afamada e lembrado por todos. A mais impressionante são os relatos de como conseguia “pegar” cobras com as mãos, sem receber nenhuma picada. Estas façanhas foram presenciadas pelo amigo Vicente Figueiredo, que juntos, trabalharam por mais de 30 anos. Vicente conta que certa vez, mandou mais de 40 serpentes para o Instituto do Butatan, em São Paulo, em sua maioria capturada a mão, por Porfirinho. “Ele ia lá rodeava a cobra, conversava com ela e a pegava. Era impressionante a sua habilidade com os animais”. Além das serpentes, Porfirinho também ganhou respeito de todos os cavaleiros da região no trato com os animais, principalmente cavalos e bois. “O animal podia ser arisco, bravo, teimoso, não tinha jeito. Ele chegava, conversa com o animal e logo estava domado. Só vendo pra crer”, conta Vicente Figueiredo.
Vicente Figueiredo também relata que Porfirinho mexia até com marimbondo. “Não sei o que ele fazia, só sei que ele ia lá, conversa com eles e logo vinha trazendo a caixa nas mãos, repleta de marimbondos zoando pra tudo que é lado, mas sem receber nenhuma picada”.
Muitas são as histórias e muitos são os amigos, mas todos têm uma certeza, Porfirinho foi e sempre será uma pessoa digna, trabalhadora e respeitada por todos.

Hoje, nada sinto
não quero ir, nem vir
Tenho comigo o peso de Atlas
Não trago nada que seja sincero
Só me resta o pensamento
e algumas palavras...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Silêncio

Às vezes o som me atrapalha


O ronronar das letras


Mi dói os ouvidos...

Gestos mi acumulam


Faz me sentir inútil,


Sem sentido.

 
O silêncio me satisfaz,


Dá valor ao que mais preservo...


A palavra.