terça-feira, 14 de setembro de 2010

Histórias do Sul de Minas

O enigmático Porfirinho

Há 82 anos, completados no último dia 7 de julho, nascido na cidade de Bandeira do Sul, Porfírio Soares Filho, o Porfirinho, é conhecido de todos em Botelhos e por muitos nas cidades da nossa região. Tropeiro, amansador de cavalo e bois bravos, ferrador, benzedor e encantador de serpentes e marimbondos, Porfirinho é um enigma a ser desvendado. Muitas são as suas histórias, comprovadas por amigos e outras por ele contadas, mas, com seu jeito brincalhão e cativante, deixa o expectador com dúvidas, sem saber ao certo se são verdadeiras ou apenas parte de sua conversa instigante e cheia de realismo fantástico.
Pai de três filhos, cinco enteadas e quatro netos, Porfirinho passou toda sua vida dividido entre a família e fazendo o que mais gostava, a lida com animais. Trabalhou em várias fazendas, onde as maiorias das histórias contadas aparecem como pano de fundo.

“Responsa”
Diz que ainda moço, quando morava em Bandeira do Sul, ao colher uma roça de milho, não tinha como transporta-la do campo para a tuia. Assim, meio que sem saber como, apareceu em sua propriedade uma mula, que ali ficou rondando. Ao avistar o animal pensou, essa mula pode me ajudar a recolher o milho. E assim o fez. Após recolher grande parte da roça, já anoitecendo, Porfirinho foi até uma venda que existia nas redondezas. Lá, encontrou um sujeito dizendo que havia perdido uma mula, com as mesmas características daquela que havia aparecido em sua casa. Vendo o homem desesperado, disse que iria ajudá-lo a encontrar o animal, assim, ele ficou “responsa”, termo caipira usado para os adivinhadores. Em sua artimanha, Porfirinho voltou pra casa, acabou de recolher o milho e na noite seguinte encontrou o dono da mula e disse que o animal seria achado em um sítio dali próximo. Não deu outra, Porfirinho passou a ser considerado como “responsa”, e sua fama se espalhou pela redondeza.

Amigos
Mas para os amigos, Porfirinho tem sim uma coisa inexplicável, como conta o aposentado João Jacinto Pinto, o João Camelo, como ele mesmo se trata, aos 82 anos, de idade. Certo dia, na véspera do Natal, encontrou o amigo Porfirinho em um bar no centro de Botelhos. Após um pouco de conversa, notou que Porfirinho olhava para o nada, erguia o dedo e dizia: “Ó, ta vindo”, “Ó, ta chegando”. E assim, poucos minutos depois foi de encontrou com um sujeito vestido de cavaleiro, com botas, chapéu, trocou aperto de mão, conversaram por alguns minutos e se despediram. Porfirinho voltou para o bar e João Camelo perguntou quem era o rapaz que ele havia conversado. Tal o espanto quando ele respondeu: “Não sei, nunca vi. Só sei que ele me mandou um recado no ar dizendo que estava chegado e eu fui cumprimentá-lo”. Para João Camelo a troca de informação foi telepática.
Já o amigo Sebastião Leal Sobrinho, o “Sebastião Belchor”, 95 anos, conta que conheceu Porfirinho em uma situação quase que impossível: após Porfirinho cair do cavalo em que montava. A façanha foi no Bairro Santa Cruz, há mais de 50 anos. Diz que era um dia de domingo, na hora do almoço, quando escutou a algazarra e for ver o acontecido. “Lá estava ele caindo no chão, com o cavalo do lado, parecia embriagado. Perguntei, esse que é o famoso Porfirinho, amansador de cavalos? E era. Este foi o primeiro dia do inicio de uma grande amizade, o dia em que o feitiço virou contra o feiticeiro”, lembra.
Outra habilidade também contada pelos amigos é de sua facilidade com o manejo de coisas que exigem controle manual. Segundo ele, na falta de um funil para transpor o leite de um balde para garrafas, Porfirinho pegava o balde com a mão direita e com a esquerda segurava a garrafa e, ao poucos, e com muita concentração, ia virando o leite e despejando dentro das garrafas de vidro, sem cair uma gota pra fora. “Era uma coisa quase que impossível de si fazer. Era impressionante seu alto controle, só quem viu pra acreditar”, afirmam os amigos.
São muitas as histórias contadas pelos amigos que fizeram de Porfirinho uma pessoa afamada e lembrado por todos. A mais impressionante são os relatos de como conseguia “pegar” cobras com as mãos, sem receber nenhuma picada. Estas façanhas foram presenciadas pelo amigo Vicente Figueiredo, que juntos, trabalharam por mais de 30 anos. Vicente conta que certa vez, mandou mais de 40 serpentes para o Instituto do Butatan, em São Paulo, em sua maioria capturada a mão, por Porfirinho. “Ele ia lá rodeava a cobra, conversava com ela e a pegava. Era impressionante a sua habilidade com os animais”. Além das serpentes, Porfirinho também ganhou respeito de todos os cavaleiros da região no trato com os animais, principalmente cavalos e bois. “O animal podia ser arisco, bravo, teimoso, não tinha jeito. Ele chegava, conversa com o animal e logo estava domado. Só vendo pra crer”, conta Vicente Figueiredo.
Vicente Figueiredo também relata que Porfirinho mexia até com marimbondo. “Não sei o que ele fazia, só sei que ele ia lá, conversa com eles e logo vinha trazendo a caixa nas mãos, repleta de marimbondos zoando pra tudo que é lado, mas sem receber nenhuma picada”.
Muitas são as histórias e muitos são os amigos, mas todos têm uma certeza, Porfirinho foi e sempre será uma pessoa digna, trabalhadora e respeitada por todos.

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