terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os quebrantos, relances e abismos ao relento do poeta Wilson Nanini


Desde que lançou seu blog na rede mundial de computadores, em 2007, o poeta e policial militar, Wilson Torres Nanini, vem chamando a atenção de diversas pessoas, entre elas, poetas conceituados, de renome e que exploram este moderno mundo das letras.
Entitulando-se um poeta em fase de berçário, Wilson Nanini busca nos versos de “Quebranto, relances e abismos ao relento”, seu primeiro livro inédito de poemas, uma poética que oscila entre a delicadeza e a crueza, segundo analise da poetiza pernambucana Micheliny Verunschk, finalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira.
Wilson Nanini, nascido em Poços de Caldas, mas criado desde o berço em Botelhos, em 2002, chegou a cursar Letras  na Faculdade de São João da Boa Vista, mas, após fazer um curso para soldado da Policial Militar, em Lavras, teve que abandonar a faculdade, só voltando para Botelhos em 2007.

Origem
E foi em ambiente familiar, junto de sua mãe e suas tias, todas professoras, que Wilson Nanini teve seus primeiros contados com a literatura. Livros de fábulas e de histórias cotidianas moldaram sua veia poética.
No Ginásio, incentivado pelas professoras, Divina Moreira, Silvana Siqueira e Márcia Frazão, Wilson Nanini começa a colocar no papel seus primeiros versos. “Comecei fazendo letras de músicas para uma banda, formada por amigos, inspiradas principalmente na poesia de Renato Russo, da Legião Urbana. Assim, fui aperfeiçoando e buscando nas referências do Renato, como por exemplo, os poetas Arthur Rimbaud e Carlos Drumonnd de Andrade”.

Concursos 
Em 2000, participou do Concurso de Poesia Falada da cidade de São Paulo, promovido pela Prefeitura e pelo Instituto Mario de Andrade. Ficou em segundo lugar, com a poesia O corpo cervo corpo.
Em 2001, na cidade de Machado participou do Primeiro Concurso Plínio Motta de Contos e Poesias, promovido pela Academia Machadense de Letras, no qual foi premiado com a edição em livro com o conto Farfalhas de coisas ambíguas.
No Rio de Janeiro também participou de um concurso de poemas promovido pelas Editora Líteres, cujo 20 melhores poemas, incluindo o seu, foi publicado em livro.

O livro
Segundo Wilson Nanini, todos estes anos de leitura e produção resultou em uma coleção de poemas que já tem um destino certo: o livro “Quebrantos, relances e abismos ao relento”, que mesmo ainda sem data e edição para ser apresentado ao público, traz toda sua verve literária, trazendo a poesia como forma lúdica e de descarrego. Quebrantos estão ligados ao sagrado e ao profano, das rezas, das benzedeiras, dos mal olhados, das curas do corpo e da alma. Relances são as cenas cotidianas, da sua vida como filho, marido, o poeta com o seu olhar mais singular. Abismos aos relentos trazem toda sua vivência como soldado militar, que faz das letras e formas um ato de auto purificação.
Entrevistado pelo escritor e poeta Marcelo Novaes, em seu blog, Wilson se define como uma pessoa, até certo ponto, melancólica, nostálgica. Devedor da ancestralidade, da própria e da alheia. Detendo um gosto ao saudosismo, mas apenas pela alegria já vivida. “Como policial militar, lido com a morte alheia e com a possibilidade da própria morte, rotineiramente. Centenas de vezes estive à frente de pessoas com arame farpado e sangue nos olhos. Inclusive um considerável número de meus poemas foi esboçado de manhã, após noites de intensa labuta no meu ofício profissional. O repúdio ao distúrbio está disseminado em quase todos os meus poemas. Mas nunca fiz algo específico, como faria um Edgar Alan Poe, um Baudelaire ou um Augusto dos Anjos”.

Para os interessados a conhecer mais do poeta Wilson Nanini acesse:
www.wilsonnanini.blogspot.com  e www.tertuliapaodequeijo.blogspot.com 


Segue abaixo um poema feito para Botelhos, nestes 99 anos, comemorados no dia 30 de agosto.


BOTELHOS DE SETE VIDAS

Dita do asilo
Invés de alma, ela tinha ventania:
às vezes, uma ciranda alegre;
às vezes um circo demoníaco.

Evelise Leite
De sua benevolência, trago as vacinas certas
para traduzir a bíblia para formigas
e ser cão-guia para cegos.

Ofélia
Seu órgão dava perfume a um coral de beatas
e eu mastigava hóstias só para ver
se sairia sangue das chagas.

Onofre Soldado
De meu avô já morto, restam no meu rosto
alinhavadas pausas (cicatrizes esculpidas
pelas facas da sina de ser polícia).

Porfirinho
Dizem: “ele bebe o veneno das cascavéis que amansa”
– mas me oferta um gole de café-com-(de)leite
destilado das lendas da minha infância.

Sá Patrumília
Com murmúrio de rezas, ela mastigava meus anjos bélicos
e eu ficava desquebrantado
(com a alma cheirando a hortelã na água).

Zé Balilla
Fotografia é um alento precário:
lembrança é uma infância não de todo morta
empacotada em porta-retratos.

Histórias do Sul de Minas

O enigmático Porfirinho

Há 82 anos, completados no último dia 7 de julho, nascido na cidade de Bandeira do Sul, Porfírio Soares Filho, o Porfirinho, é conhecido de todos em Botelhos e por muitos nas cidades da nossa região. Tropeiro, amansador de cavalo e bois bravos, ferrador, benzedor e encantador de serpentes e marimbondos, Porfirinho é um enigma a ser desvendado. Muitas são as suas histórias, comprovadas por amigos e outras por ele contadas, mas, com seu jeito brincalhão e cativante, deixa o expectador com dúvidas, sem saber ao certo se são verdadeiras ou apenas parte de sua conversa instigante e cheia de realismo fantástico.
Pai de três filhos, cinco enteadas e quatro netos, Porfirinho passou toda sua vida dividido entre a família e fazendo o que mais gostava, a lida com animais. Trabalhou em várias fazendas, onde as maiorias das histórias contadas aparecem como pano de fundo.

“Responsa”
Diz que ainda moço, quando morava em Bandeira do Sul, ao colher uma roça de milho, não tinha como transporta-la do campo para a tuia. Assim, meio que sem saber como, apareceu em sua propriedade uma mula, que ali ficou rondando. Ao avistar o animal pensou, essa mula pode me ajudar a recolher o milho. E assim o fez. Após recolher grande parte da roça, já anoitecendo, Porfirinho foi até uma venda que existia nas redondezas. Lá, encontrou um sujeito dizendo que havia perdido uma mula, com as mesmas características daquela que havia aparecido em sua casa. Vendo o homem desesperado, disse que iria ajudá-lo a encontrar o animal, assim, ele ficou “responsa”, termo caipira usado para os adivinhadores. Em sua artimanha, Porfirinho voltou pra casa, acabou de recolher o milho e na noite seguinte encontrou o dono da mula e disse que o animal seria achado em um sítio dali próximo. Não deu outra, Porfirinho passou a ser considerado como “responsa”, e sua fama se espalhou pela redondeza.

Amigos
Mas para os amigos, Porfirinho tem sim uma coisa inexplicável, como conta o aposentado João Jacinto Pinto, o João Camelo, como ele mesmo se trata, aos 82 anos, de idade. Certo dia, na véspera do Natal, encontrou o amigo Porfirinho em um bar no centro de Botelhos. Após um pouco de conversa, notou que Porfirinho olhava para o nada, erguia o dedo e dizia: “Ó, ta vindo”, “Ó, ta chegando”. E assim, poucos minutos depois foi de encontrou com um sujeito vestido de cavaleiro, com botas, chapéu, trocou aperto de mão, conversaram por alguns minutos e se despediram. Porfirinho voltou para o bar e João Camelo perguntou quem era o rapaz que ele havia conversado. Tal o espanto quando ele respondeu: “Não sei, nunca vi. Só sei que ele me mandou um recado no ar dizendo que estava chegado e eu fui cumprimentá-lo”. Para João Camelo a troca de informação foi telepática.
Já o amigo Sebastião Leal Sobrinho, o “Sebastião Belchor”, 95 anos, conta que conheceu Porfirinho em uma situação quase que impossível: após Porfirinho cair do cavalo em que montava. A façanha foi no Bairro Santa Cruz, há mais de 50 anos. Diz que era um dia de domingo, na hora do almoço, quando escutou a algazarra e for ver o acontecido. “Lá estava ele caindo no chão, com o cavalo do lado, parecia embriagado. Perguntei, esse que é o famoso Porfirinho, amansador de cavalos? E era. Este foi o primeiro dia do inicio de uma grande amizade, o dia em que o feitiço virou contra o feiticeiro”, lembra.
Outra habilidade também contada pelos amigos é de sua facilidade com o manejo de coisas que exigem controle manual. Segundo ele, na falta de um funil para transpor o leite de um balde para garrafas, Porfirinho pegava o balde com a mão direita e com a esquerda segurava a garrafa e, ao poucos, e com muita concentração, ia virando o leite e despejando dentro das garrafas de vidro, sem cair uma gota pra fora. “Era uma coisa quase que impossível de si fazer. Era impressionante seu alto controle, só quem viu pra acreditar”, afirmam os amigos.
São muitas as histórias contadas pelos amigos que fizeram de Porfirinho uma pessoa afamada e lembrado por todos. A mais impressionante são os relatos de como conseguia “pegar” cobras com as mãos, sem receber nenhuma picada. Estas façanhas foram presenciadas pelo amigo Vicente Figueiredo, que juntos, trabalharam por mais de 30 anos. Vicente conta que certa vez, mandou mais de 40 serpentes para o Instituto do Butatan, em São Paulo, em sua maioria capturada a mão, por Porfirinho. “Ele ia lá rodeava a cobra, conversava com ela e a pegava. Era impressionante a sua habilidade com os animais”. Além das serpentes, Porfirinho também ganhou respeito de todos os cavaleiros da região no trato com os animais, principalmente cavalos e bois. “O animal podia ser arisco, bravo, teimoso, não tinha jeito. Ele chegava, conversa com o animal e logo estava domado. Só vendo pra crer”, conta Vicente Figueiredo.
Vicente Figueiredo também relata que Porfirinho mexia até com marimbondo. “Não sei o que ele fazia, só sei que ele ia lá, conversa com eles e logo vinha trazendo a caixa nas mãos, repleta de marimbondos zoando pra tudo que é lado, mas sem receber nenhuma picada”.
Muitas são as histórias e muitos são os amigos, mas todos têm uma certeza, Porfirinho foi e sempre será uma pessoa digna, trabalhadora e respeitada por todos.

Hoje, nada sinto
não quero ir, nem vir
Tenho comigo o peso de Atlas
Não trago nada que seja sincero
Só me resta o pensamento
e algumas palavras...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Silêncio

Às vezes o som me atrapalha


O ronronar das letras


Mi dói os ouvidos...

Gestos mi acumulam


Faz me sentir inútil,


Sem sentido.

 
O silêncio me satisfaz,


Dá valor ao que mais preservo...


A palavra.